LIGA ACADÊMICA DE ONCOLOGIA CLÍNICA E CIRÚRGICA
TUDO SOBRE Câncer
Carcinoma Hepatocelular
O carcinoma hepatocelular (CHC), também conhecido como hepatocarcinoma, é o câncer primário do fígado, ou seja, derivado dos hepatócitos¹.
Ele surge quando há mutação nos genes dos hepatócitos, o que provoca sua multiplicação desordenada, e essa mutação pode ser causada por agentes externos, como:
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Infecção pelos vírus das hepatites B e C (VHB e VHC, respectivamente)¹, pois pode haver a integração do DNA viral em áreas dentro do DNA humano responsáveis pelo controle do ciclo celular e, dessa forma, interromper os genes supressores de tumor ou ativar os oncogenes²;
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Excesso de multiplicações das células, como a regeneração crônica nas hepatites crônicas, o que aumenta o risco do surgimento de erros na duplicação dos genes¹;
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Cirrose hepática, pois essa resulta em proliferação celular e em aumento da síntese de DNA nos nódulos de regeneração e esses processos podem levar a rearranjos aberrantes e a alterações da função proteica reguladora².
Fonte:
1. GOMES, M. A.; PRIOLLI, D. G.; TRALHÃO, J. G.; BOTELHO, M. F. Carcinoma hepatocelular: epidemiologia, biologia, diagnóstico e terapias. Rev. Assoc. Med. Bras., v. 59, n. 5, p. 514-524, 2013.
2. PIMENTA, J. R.; MASSABKI, P. S. Carcinoma hepatocelular: um panorama clínico. Revista Brasileira de Clínica Médica, v. 8, p. 59-67, 2010.
3. BRASIL. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer (INCA). Câncer de Fígado. Disponível em: <http://www.inca.gov.br/conteudo_view.asp?id=330>. Acesso em 27 de fevereiro de 2017.
Cerca de 50% dos pacientes com CHC apresentam cirrose hepática, que pode estar associada ao alcoolismo ou hepatite crônica, cujo fator etiológico predominante é a infecção pelos vírus VHB e VHC. A esquistossomose é considerada fator de risco nas áreas endêmicas e a ingestão de grãos e cereais deve ter atenção especial, pois quando esses alimentos são armazenados em locais inadequados e úmidos, podem ser contaminados pelo fungo Aspergillus flavus, o qual produz uma substância cancerígena ligada ao CHC, a aflatoxina, além de doenças relacionadas com o depósito de ferro no fígado³.
Diagnóstico
Na avaliação do paciente com suspeita de CHC, faz-se necessária a avaliação da presença de neoplasia, hepatopatias crônicas associadas e ressecabilidade. O diagnóstico pode ser feito por meio de exames de imagem, marcadores tumorais e anatomopatológico. Como nem sempre há aumento dos marcadores tumorais e a realização de biópsia pode não ser possível ou recomendável, o diagnóstico do CHC pode ser fechado pela presença de exame de imagem com lesão típica e aumento em marcador tumoral ou pela presença de imagem típica em duas modalidades diferentes de exame de imagem¹.
A maioria dos pacientes apresenta alguma anormalidade dos níveis das bilirrubinas, transaminases e fosfatase alcalina. Em pacientes cirróticos, o aumento brusco da fosfatase alcalina, seguida de pequena elevação das bilirrubinas e transaminases, é sugestivo de malignidade. A alfafetoproteína (AFP) se apresenta elevada em 75% a 90% dos pacientes com carcinoma hepatocelular³.
Ao avaliar-se uma imagem que mostra lesão sólida ocupando o espaço do fígado, é de extrema importância a exclusão de algumas doenças, como câncer metastático, hemangioma hepático, adenoma hepático, pseudotumor inflamatório, hiperplasia nodular focal e hiperplasia adenomatosa, sarcoma e abscesso hepático².
Devido à estreita associação entre CHC e cirrose, o prognóstico de casos individuais depende da severidade do estado de cirrose e do grau de envolvimento maligno do carcinoma hepatocelular. A maioria dos critérios de estadiamento para o prognóstico de CHC incorpora elementos acerca da extensão tumoral e da severidade da cirrose¹.
Tratamento
Após a realização do diagnóstico, tem-se algumas modalidades terapêuticas possíveis de serem realizadas e essas podem ser cirúrgicas, e incluem a ressecção e o transplante, a ablação percutânea por radiofrequência ou alcoolização e a quimioterapia, sistêmica ou regional².
O tratamento cirúrgico é o mais indicado nos tumores hepáticos primários, na ausência de metástases à distância e nos tumores hepáticos metastáticos em que a lesão primária foi ressecada ou é passível de ser ressecada de maneira curativa. A indicação de uma cirurgia de ressecção hepática dependerá do estado clínico do paciente e da quantidade prevista de parênquima hepático restante, o qual deve ser em torno de 10% do peso corporal³. Tem sido recomendado o seguimento dos pacientes após o tratamento através da dosagem de AFP e a realização de USG abdominal a cada três meses no primeiro ano, e a cada seis meses após o primeiro ano².
Prognóstico
O prognóstico para os doentes com CHC é, de maneira geral, sombrio e a sobrevivência varia desde algumas semanas até um ano, dependendo da extensão do envolvimento tumoral e de outros fatores de prognóstico¹. O CHC possui a possibilidade de prevenção, sendo essa classificada em primária e secundária. A prevenção primária é baseada principalmente no interrompimento da transmissão do vírus da hepatite B, com o uso de vacinas e a prevenção secundária depende da detecção precoce do tumor, constando da remoção cirúrgica quando o tumor ainda não produziu repercussão clínica, mas já foi detectado pela dosagem no sangue de AFP³.
O hepatocarcinoma tem por característica ser muito agressivo, com alto índice de óbito após o início dos sintomas. Quando detectado apenas na fase sintomática, o paciente sem tratamento tem expectativa de vida média inferior a um mês, sendo que mesmo nessa fase os tratamentos disponíveis são limitados e pouco eficazes¹.
O CHC constitui 70 a 85% das neoplasias hepáticas primárias, é o tumor primário mais comum do fígado e se constitui em um dos tumores malignos mais frequentes no mundo¹. No Brasil, este tumor não consta entre os dez mais incidentes e há poucos dados acerca de sua incidência no país. O sudeste da Ásia, Japão e África do Sul apresenta incidência particularmente alta de CHC e a taxa de incidência dessas regiões ocorrem devido ao maior número de casos de infecção pelo VHB na Ásia e África. O carcinoma hepatocelular ocorre em frequência três vezes maior em homens do que em mulheres².
Sintomas
Os sintomas do CHC não são específicos, geralmente indicam CHC avançado e estão relacionados mais diretamente ao comprometimento da função do fígado. Os sinais e sintomas dos pacientes com o carcinoma hepatocelular são: dor abdominal (40 a 60%), massa abdominal, distensão abdominal (30 a 40%), ascite (20%), icterícia, anorexia, mal-estar³, sinais de encefalopatia hepática, desde sonolência até o coma, e hemorragia digestiva¹.